CARIDADE - LER

De Escritor e poeta Sanjoanense, José Moreira.
Nascido na Devesa Velha.


Soneto de nome ”Mendigo” que implica caridade…

“Vede-o! Lá vai… estrada fora…
Apoiando-se a velho bordão.
Sondai-o! Não sabe onde mora,
Nem se logo lhe mingua o pão.

De manhã, mal a nascente cora,
Tendo rezado sua oração,
Toma o saco; lá vai embora,
Estender à caridade a mão.

E quem há, que mendigo não seja,
Neste mundo de aversa sorte?
Pedem uns a Deus que os proteja,

Eu, à Parca, meu fio não corte.
Você, leitor... Sei lá que deseja?
Se'té há quem suplique a morte!”

Palavras - Outros cadernos de Saramago

Felizmente há palavras para tudo. Felizmente que existem algumas que não se esquecerão de recomendar que quem dá deve dar com as duas mãos para que em nenhuma delas fique o que a outras deveria pertencer. Assim como a bondade não tem por que se envergonhar de ser bondade, também a justiça não deverá esquecer-se de que é, acima de tudo, restituição, restituição de direitos. Todos eles, começando pelo direito elementar de viver dignamente. Se a mim me mandassem dispor por ordem de precedência a caridade, a justiça e a bondade, daria o primeiro lugar à bondade, o segundo à justiça e o terceiro à caridade. Porque a bondade, por si só, já dispensa a justiça e a caridade, porque a justiça justa já contém em si caridade suficiente. A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça.

As duas cadelas

Sentindo-se na hora de parir, e não tendo onde acolher-se, pediu uma cadela à sua companheira que lhe emprestasse a sua cama. A outra, compadecida, atendeu-lhe, prometendo ela retirar-se logo que os filhinhos se pudessem arrastar.
Chegou o dia da restituição, e não mostrando a hóspede muita vontade de cumprir o ajuste, pediu-lhe a dona o seu palheiro. A parida, porém, arreganhando os dentes disse:
- Retirar-me-ei se fores capaz de deitar-me fora a mim e aos meus.
Tinha então consigo meia dúzia de cachorrinhos que já ladravam e sabiam morder.